domingo, 5 de junho de 2011

O BURACO

Lembram d'O Buraco, conto de Luiz Vilela trabalhado em sala na última aula? E lembram que comentamos que havia um outro texto, de um famoso escritor brasileiro, Mário de Andrade, que também fazia uso da metáfora de se transformar em tatu e entrar em um buraco? Pois não deixe de conferir o poema "Lundo do escritor difícil", e perceber como os artistas geralmente abordam uma mesma temática por diferentes pontos de vista:


Lundu do escritor difícil


Eu sou um escritor difícil
Que a muita gente enquizila,
Porém essa culpa é fácil
De se acabar duma vez:
É só tirar a cortina
Que entra luz nesta escurez.


Cortina de brim caipora,
Com teia caranguejeira
E enfeite ruim de caipira,
Fale fala brasileira
Que você enxerga bonito
Tanta luz nesta capoeira
Tal-e-qual numa gupiara.


Misturo tudo num saco,
Mas gaúcho maranhense
Que pára no Mato Grosso,
Bate este angu de caroço
Ver sopa de caruru;
A vida é mesmo um buraco,
Bobo é quem não é tatu!


Eu sou um escritor difícil,
Porém culpa de quem é!...
Todo difícil é fácil,
Abasta a gente saber.
Bajé, pixé, chué, ôh "xavié"
De tão fácil virou fóssil,
O difícil é aprender!


Virtude de urubutinga
De enxergar tudo de longe!
Não carece vestir tanga
Pra penetrar meu caçanje!
Você sabe o francês "singe"
Mas não sabe o que é guariba?
— Pois é macaco, seu mano,
Que só sabe o que é da estranja.

Nenhum comentário:

Postar um comentário